ANDANDO NA LINHA
Carlos Macêdo
Dos desenhos às gravuras, anseio pelo auxílio indispensável do elemento fundamental para o ato expressivo, a linha, que industrializo com régua e compasso, ou que fabrico com a natural liberdade da artesania. Assim, da aparente irrealidade metafísica vem à matéria, o discurso imagético. Na solidão do embate, tentamos nos vencer, a obra e eu, quando finalmente caio por terra, ela se realiza vitoriosa, levando em cada mínimo segmento de linha a emoção da vida inteira. Medos, incertezas, ânsias estão lá construindo o percurso do desenho, de mãos dadas com o sonho, com a determinação do fazer e a ilusão de que está feito.
Assumo a obssessão compulsiva na materialização das idéias enquanto que desde a infância até aqui me acompanha. Creio na importância da linha como fronteira imprescindível entre as formas e o resto do mundo, registro a emoção de cada trabalho no momento em que estou mais envolvido e que o coração bate mais forte. Para isso meço a minha pressão arterial no instante mais emocionante da realização e intitulo cada desenho com os números obtidos. Assim, os trabalhos têm o nome dos meus sentimentos, nome este composto pelos números revelados no visor do aparelho de pressão com que trabalho ao lado.
Ao me debruçar sobre o papel com os olhos que mais lembram alguém aterrorizado diante da morte, construo, linha a linha, as formas que nascem na angústia primária da criação. Cada traço tem seu temperamento, na medida em que logra manter sua orgulhosa identidade, repleta de defeitos e virtudes. Eventuais falhas de acabamento não podem, não devem ser corrigidas, fazem parte da obra, constituem-na, são testemunhas insubstituíveis da humanidade fazedora de coisas que me afeta.
Generosa divisa que empresta identidade visual às coisas é a linha tênue, determinada em seu circuito, que permite a distinção entre os objetos e lhes dão caráter expressivo no acidente de sua materialidade. A maior surpresa, contudo, é de que não sou eu, mas ela quem me desenha, simples e silenciosa na cópia integral de minhas emoções.
Carlos Macêdo
Dos desenhos às gravuras, anseio pelo auxílio indispensável do elemento fundamental para o ato expressivo, a linha, que industrializo com régua e compasso, ou que fabrico com a natural liberdade da artesania. Assim, da aparente irrealidade metafísica vem à matéria, o discurso imagético. Na solidão do embate, tentamos nos vencer, a obra e eu, quando finalmente caio por terra, ela se realiza vitoriosa, levando em cada mínimo segmento de linha a emoção da vida inteira. Medos, incertezas, ânsias estão lá construindo o percurso do desenho, de mãos dadas com o sonho, com a determinação do fazer e a ilusão de que está feito.
Assumo a obssessão compulsiva na materialização das idéias enquanto que desde a infância até aqui me acompanha. Creio na importância da linha como fronteira imprescindível entre as formas e o resto do mundo, registro a emoção de cada trabalho no momento em que estou mais envolvido e que o coração bate mais forte. Para isso meço a minha pressão arterial no instante mais emocionante da realização e intitulo cada desenho com os números obtidos. Assim, os trabalhos têm o nome dos meus sentimentos, nome este composto pelos números revelados no visor do aparelho de pressão com que trabalho ao lado.
Ao me debruçar sobre o papel com os olhos que mais lembram alguém aterrorizado diante da morte, construo, linha a linha, as formas que nascem na angústia primária da criação. Cada traço tem seu temperamento, na medida em que logra manter sua orgulhosa identidade, repleta de defeitos e virtudes. Eventuais falhas de acabamento não podem, não devem ser corrigidas, fazem parte da obra, constituem-na, são testemunhas insubstituíveis da humanidade fazedora de coisas que me afeta.
Generosa divisa que empresta identidade visual às coisas é a linha tênue, determinada em seu circuito, que permite a distinção entre os objetos e lhes dão caráter expressivo no acidente de sua materialidade. A maior surpresa, contudo, é de que não sou eu, mas ela quem me desenha, simples e silenciosa na cópia integral de minhas emoções.
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